domingo, 30 de dezembro de 2007

DOM ALOÍSIO, PASTOR DE SONHOS E MESTRE EM HUMANIDADE.

Marcelo Barros

Partiu Dom Aloísio Lorscheider. Mais um de nossos melhores bispos que soube ser pastor para toda a Igreja e profeta para o mundo. Um homem que, a qualquer pessoa que se aproximava dele, impressionava em primeiro lugar pela força de sua opção evangélica e pelo testemunho de sua fé amorosa. Quem conheceu Dom Aloísio sabe que era um homem de fala mansa e postura serena que nunca seria confundido com um revolucionário exaltado. Eu o conheci ainda nos meados dos anos 60, pouco depois do Concílio Vaticano II. Ainda estudante de Teologia, comecei a atuar no movimento pela unidade das Igrejas cristãs que, na época, era uma opção forte da maioria da Igreja Católica e do próprio papa Paulo VI. Dom Aloísio, jovem bispo da diocese de Santo Ângelo, RS, era o presidente da Comissão Nacional de Ecumenismo da CNBB. Várias vezes foi ao Nordeste e ali nos encontrávamos e ceávamos juntos na fraternidade dos irmãos de Taizé. Ele foi praticamente o redator do primeiro diretório ecumênico feito pela Igreja Católica no Brasil (1969). Era um documento aberto e profundo que dizia claramente à Igreja Católica que não adianta fazer pastoral ecumênica (encontro com cristãos de outras Igrejas) se não se fizer um esforço profundo e permanente de dar uma dimensão mais ecumênica e aberta a toda a teologia e a toda a pastoral. Mais tarde, ele se tornou secretário da CNBB e posteriormente presidente. Foi nomeado arcebispo de Fortaleza e eu o encontrei poucas vezes, embora acompanhava como ele soube reunir os bispos do Ceará em torno dos problemas sociais graves do Nordeste. Só o reencontrei em 1999. Eu tinha dado uma entrevista a uma revista de Roma, na qual, respondendo a uma pergunta, eu disse que, para enxugar uma sala molhada, a primeira providência deve ser fechar a torneira. Eu achava ótimo o papa (João Paulo II) ter coragem de pedir perdão por erros cometidos por papas e bispos do passado. (Hoje, temos saudade desses gestos de humildade vindos do papa). Mas, se ele não mudasse o modelo de Igreja responsável por aqueles erros, continuaria inevitavelmente a cometer novos erros para um papa do futuro (que aceitar se rever) pedir perdão. Fui condenado por isso e tive de me explicar com superiores religiosos de minha ordem e com organismos da Cúria Romana. Estava instalado um processo que dificultava o meu trabalho de assessoria às comunidades e queimava o meu nome em muitos ambientes católicos. Dom Aloísio Lorscheider, então arcebispo de Aparecida, era o presidente da Comissão Teológica da CNBB. Eu pedi para falar com ele e ele me recebeu no dia seguinte. Foi ele mesmo me buscar na rodoviária de Aparecida e me levar à casa dele onde me ofereceu um lanche e conversamos uma boa parte da tarde. Era um homem de profunda capacidade de escutar e de abertura interior a quem pensava diferente. Disse-me que concordava comigo no conteúdo, mas discordava do modo como me expressei. De qualquer forma, não considerava justa a censura ou a condenação e se comprometeu a dar um testemunho sobre minha colaboração positiva com tantos organismos de Igreja no Brasil. Menos de um mês depois, recebi uma cartinha dele prestando conta desta sua missão e, ao menos por um tempo, não tive mais problemas em viver a missão junto com o povo das comunidades. Dou este testemunho pessoal porque sei que outros companheiros e amigos, como o nosso irmão e mestre Leonardo Boff, tiveram com ele a mesma experiência de acolhida e apoio. Dom Aloísio não foi só um zeloso pastor do povo, mas uma espécie de padrinho para todos os que aceitam o risco de pensar a fé e a teologia a partir da caminhada de libertação dos empobrecidos e excluídos. Ele não só era um bom teólogo, mas um defensor da liberdade de pesquisa teológica e do direito do dissenso na Igreja. A partida de Dom Aloísio nos deixa mais órfãos, ao mesmo tempo, conscientes de que, nos tempos atuais, nós mesmos temos de tomar nas mãos a tarefa e sermos, como comunidades e movimentos, profetas e construtores de um novo mundo, como de Igrejas que sejam ensaios e sacramentos do reino divino. Muito obrigado, Dom Aloísio. No céu, continue sendo nosso padrinho.

quinta-feira, 27 de dezembro de 2007

Dom Aloísio Lorscheider - por dom Demétrio Valentini

Dom Aloísio partiu. No apagar das luzes de 2007, apagou-se a chama luminosa de sua privilegiada inteligência. Silenciou o coração bondoso que resistiu a tantos embates. Descansou o laborioso frade franciscano, o teólogo competente, o bispo dedicado, o cristão humilde e temente a Deus. Morreu o cardeal que cativou os corações e que deixa tantas saudades.
Sentiremos sua falta. Sobretudo em nossas assembléias. Não teremos mais sua análise de conjuntura teológica, vazada em linguagem simples, fluente, acessível, e ao mesmo tempo profunda, que ele nos fazia todos os anos, ao longo das presidências de D. Ivo seu primo, de D. Luciano seu amigo, e de D. Jayme seu conterrâneo. Suas posições claras e serenas inspiravam confiança em todos, e davam firmeza para nossas opções pastorais.
No parecer do Pe. Alberto Antoniazzi, D. Aloísio era o “bispo completo”: humanamente dotado de exímias virtudes, que nele se traduziam em grande bondade que inspirava profunda confiança; uma esmerada formação teológica; um apurado senso pastoral; uma incansável disposição para o trabalho; uma lúcida percepção dos problemas, sem que lhe faltasse a intrépida coragem de se posicionar serenamente em favor das mudanças que a Igreja deveria fazer.
Tive o privilégio de conhecê-lo quando ele ainda não era bispo, e lecionava teologia em Roma, no Antonianum. Com muita simplicidade vinha ao seminário onde estávamos, no Pio Brasileiro, simplesmente para visitar o Oliveira, amigo seu, de Divinópolis, onde o próprio D. Aloísio tinha feito seus estudos fundamentais de filosofia e teologia. Depois, ficamos sabendo que aquele frade muito simples e muito amigo tinha ficado bispo de Santo Ângelo, no Rio Grande do Sul.
Mas então se dava uma coincidência muito importante, que traçou a trajetória de D. Aloísio. Ele foi eleito bispo no início de 1962, ano em que no mês de outubro iria começar o Concílio Vaticano II. Dom Aloísio tinha todas as condições para mergulhar fundo nos debates conciliares, e prestar um valioso serviço aos seus colegas bispos brasileiros.
D. Aloísio foi cedo valorizado pelo episcopado brasileiro, graças à perspicácia de D. Hélder e do pequeno grupo de líderes que procurou organizar a “bancada” da CNBB no Concílio.
Pude presenciar um lance decisivo. Os bispos do Brasil se hospedavam na “Domus Mariae”, a casa da Ação Católica italiana, que ficava ao lado do Pio Brasileiro. Logo na primeira reunião que realizaram, enquanto se organizavam as comissões do Concílio, D. José Távora veio ao encontro de D. João Aloísio Hoffmann, e perguntou: - É você o bispo teólogo? E Dom João respondeu: - Não, eu sou um pobre colono! O teólogo é aquele lá!
E apontou para D. Aloísio Lorscheider, a quem de imediato D. Távora se dirigiu, convidando-o a coordenar as reuniões de estudo, que passaram a ser feitas com assiduidade na Domus Mariae ao longo de todo o Concílio. Foi lá que D. Aloísio se firmou como baluarte do episcopado brasileiro.
Terminado o Concílio, ele foi cedo eleito secretário geral da CNBB, posto que lhe abriu o caminho para a presidência, que ele exerceu por dois mandatos seguidos, nos duros tempos da ditadura brasileira, enquanto era também eleito presidente do Celam, atingindo o auge de sua influência no final do pontificado de Paulo VI, que o admirava muito e lhe pedia com freqüência sua ajuda competente.
E aí se inscreve um obscuro capítulo da vida de D. Aloísio. No conclave em que foi eleito papa o Cardeal Luciani, D. Aloísio era o cardeal que mais se destacava entre todos os que não eram italianos. E sobre ele se dirigiam as expectativas para a hipótese de ser eleito um cardeal que não fosse italiano. Consta que o próprio João Paulo I teria confidenciado seu voto em D. Aloísio.
E por que então D. Aloísio não foi eleito no conclave que se seguiu à repentina morte de Luciani? Aí entra o episódio que alterou a situação. Infelizmente, nos dias que antecederam a morte de João Paulo I, D. Aloísio teve uma crise cardíaca, enquanto pregava retiro aos padres da diocese de Santa Cruz do Sul. Superada a crise, foi para o conclave. Dizem que em Roma tinham até preparado uma cadeira de rodas para receber D. Aloísio no aeroporto, para mostrar que este cardeal estava fora de combate! O episódio teve evidente repercussão. Morto um papa de repente, não iam eleger um cardeal que tinha problemas cardíacos.
Pois bem, agora a história comprova que ele teria tido um longo, e certamente profícuo pontificado. Mas D. Aloísio soube servir a Igreja com muita dedicação, mesmo não sendo papa. Tornou-se uma referência importante, por seu testemunho de humilde competência e de serena coragem.
Em dois contextos a presença de D. Aloísio foi particularmente importante: para o povo simples, de quem ele foi pastor, e para a CNBB, que ele qualificou com sua lúcida contribuição teológica.
A propósito, permito-me citar um episódio de cada contexto, entre muitos outros que poderiam ser lembrados.
Ele foi bispo de Fortaleza durante 22 anos. Era comovente ouvi-lo contar as peripécias de suas visitas pastorais no sertão do Ceará. Hospedava-se na casa da gente simples e humilde. Certa vez, a dona de casa ficou tão contente com a visita do bispo que resolveu preparar-lhe um café com o pó guardado em casa há muito tempo. Colocou a chaleira sobre o fogo para ferver a água, junto com o café. Mas na hora de servir o café, o bico da chaleira estava trancado. Acontece que uma pobre barata tinha se refugiado na chaleira, e tinha fervido junto com a água e o café. Quando a dona de casa se deu conta, não teve dúvidas: tirou a barata, e serviu o café! D. Aloísio, como bom teólogo, se lembrou das palavras do Evangelho: “Se beberem algum veneno mortal, não lhes fará mal nenhum” (Mc 16,18). E como bom pastor, tomou o café, para alegria de todos que assim puderam preparar para o bispo o melhor que podiam lhe oferecer!
Certa vez, na assembléia da CNBB, D. Possamai, Bispo de Ji-Paraná em Rondônia, pediu que a CNBB solicitasse a Roma a autorização para os Diáconos, na Amazônia, poderem ao menos conferir a unção dos enfermos aos moribundos, pois na Amazônia todos morrem sem este conforto cristão. Parecia um pedido teologicamente equivocado, como D. Amaury Castanho logo reagiu, lembrando São Tiago: “se alguém está doente, chamem os presbíteros”.
Foi então que D. Aloísio, sentado atrás de D. Amaury, tocou no ombro dele e falou: “Dom Amaury, a palavra ‘presbítero’ neste contexto não tem o mesmo sentido que lhe damos hoje!”. D. Amaury ficou incomodado, mas silenciou diante do cardeal. No intervalo, aproveitei para perguntar a D. Aloísio, imaginando-o papa: - Diante deste pedido, o que o Sr. faria?
Foi então que D. Aloísio desabafou: - Se fosse por mim, distribuiria o ministério de acordo com as necessidades do povo. Se a comunidade precisasse de um confessor, diria para alguém: você vai atender confissões e perdoar a todo mundo. Se precisasse de alguém para urgir os enfermos, incumbiria uma pessoa para cuidar bem disto. E se a comunidade precisasse de alguém para presidir a Eucaristia, simplesmente alguém da comunidade poderia ser designado para isto. Esta questão dos ministérios precisa ser revista de alto a baixo, desde o ministério de Pedro até o último ministério a ser implantado nas pequenas comunidades.
Assim pensava D. Aloísio. Este o cardeal que quase ficou papa. Este o cardeal que não ficou papa. Infelizmente!

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Lula destaca dedicação de dom Aloísio aos pobres


"Foi com pesar e tristeza que recebi a notícia da morte, neste domingo, de Dom Aloísio Lorscheider. Sua dedicação aos pobres e à justiça social são exemplos que permanecerão vivos para todos os brasileiros.
Dom Aloísio foi um símbolo da luta pelos direitos humanos, destaque de sua atuação como presidente da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB).
Ele sempre esteve ao lado dos mais fracos, confortando-os e apoiando suas causas. A seus familiares, amigos e seguidores desejo a paz necessária para enfrentar este momento de dor e saudade".


Presidente Luiz Inácio Lula da Silva


quarta-feira, 26 de dezembro de 2007

Cardeal de São Paulo preside missa como representante do papa nas exéquias de Dom Aloísio


O arcebispo de São Paulo, cardeal Odilo Pedro Scherer, presidirá a missa das exéquias do cardeal dom Aloísio Lorscheider nesta quarta-feira, às 18h, na catedral de Porto Alegre. Dom Aloísio faleceu de falência múltipla dos órgãos, no domingo, 23, às 5:30h no Hospital São Francisco na capital gaúcha.
Pela manhã, às 9:30h, o bispo de Uruguaiana (RS), dom Aloísio Dilli, franciscano, também preside uma missa com a participação da família franciscana à qual pertencia o cardeal.
Segundo o secretário do Regional Sul 3 da CNBB, padre Tarcísio Rech, dom Odilo representará o papa Bento XVI nas exéquias do cardeal. Também confirmaram presença para essa missa o Núncio Apostólico no Brasil, dom Lorenzo Baldisseri; o presidente da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB) e arcebispo de Mariana (MG), dom Geraldo Lyrio Rocha, e o presidente do Conselho Episcopal Latino-americano (CELAM) e arcebispo de Aparecida (SP), dom Raymundo Damasceno Assis, além de inúmeros outros bispos e autoridades.
Após a missa, ainda na quarta-feira, o corpo de dom Aloísio será transladado para o município de Imigrantes e será velado na igreja da comunidade de Daltro Filho, próximo ao Convento dos Franciscanos. O sepultamento está marcado para as 17h com uma missa a ser presidida pelo bispo de Caxias do Sul (RS), dom Paulo Moretto.

domingo, 23 de dezembro de 2007

Dom Aloísio Lorscheider será sepultado no dia 27


Nota divulgada pela Confederação Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB) informa que o corpo do cardeal dom Aloísio Lorscheider será velado a partir das 16h deste domingo (23), na Catedral de Porto Alegre. O templo estará aberto para o público.Estão previstas duas missas na Catedral da capital gaúcha em homenagem ao religioso na quarta-feira (26). A primeira deve ser celebrada às 9h30 e outra, às 18h.
No mesmo dia, o corpo deverá ser levado para o Convento Daltro Filho, em Imigrante (RS). O sepultamento deve acontecer na quinta-feira (27).


Morte
Dom Aloísio, de 83 anos, foi levado para um hospital em Porto Alegre em 28 de novembro. No dia 11 de dezembro, seu estado de saúde piorou e ele foi transferido para a Unidade de Terapia Intensiva (UTI). O religioso morreu neste domingo, por falência múltipla de órgãos.

Dom Aloísio foi bispo de Santo Ângelo, no Rio Grande do Sul; arcebispo de Fortaleza e de Aparecida, onde trabalhou até março de 2004. Ele foi secretário-geral e presidente da CNBB, presidente do Conselho Episcopal Latino-Americano (CELAM) e da Cáritas Internacional, e um dos presidentes da III Conferência Geral dos Bispos da América Latina e do Caribe, em Puebla, no ano de 1979.

Dom Aloísio será sepultado em Daltro Filho, no dia 27


O corpo do cardeal Aloísio Lorscheider será velado a partir das 16h horas de hoje, na Catedral de Porto Alegre (RS).
No dia 26, às 9h30, ocorrerá a missa da família franciscana e às 18h, a missa de exéquias, ambas na Catedral da cidade.
Ainda no dia 26, o corpo será transladado para o Convento Daltro Filho, no município de Imigrante (RS), a 130 km da capital gaúcha. O sepultamento está marcado para o dia 27, às 17h.
Dom Aloísio Lorscheider faleceu hoje, às 5h20 da manhã, por falência múltipla dos órgãos. O cardeal, de 83 anos, estava internado desde o dia 28 de novembro. No dia 11 de dezembro seu estado de saúde piorou e foi transferido para a UTI, onde permaneceu em estado de coma até a sua morte.
Informações com o pe. Tarcísio Rech: (51) 84596544.


Nota da CNBB sobre o falecimento do cardeal Dom Aloísio Lorscheider

“Combati o bom combate, terminei a corrida, guardei a fé” (2Tm 4,7)
A Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB) recebeu com tristeza profunda a notícia do falecimento do eminentíssimo cardeal dom Aloísio Lorscheider, ocorrido em Porto Alegre na aurora deste quarto domingo do advento, dia 23 de dezembro.
Admirado por sua inteligência e santidade, dom Aloísio tornou-se uma referência para o episcopado brasileiro pelo testemunho de amor e coragem na defesa dos mais empobrecidos, fruto de sua de fé em Jesus Cristo e de seu zelo no serviço à Igreja. Atuando de forma irrepreensível na vida da Igreja do Brasil e da América Latina, dom Aloísio exerceu com brilhantismo e sabedoria incomum a presidência da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB) e do Conselho Episcopal Latino-americano (CELAM). Igualmente, as dioceses por onde passou haverão de ter, no seu exemplo, a imagem do verdadeiro pastor que ama, cuida e conhece as próprias ovelhas.
Imbuídos do espírito do evangelho, elevamos a Deus nossa prece de gratidão por todo bem que dom Aloísio fez ao longo de seu profícuo ministério. Recordando sua história marcada por obras que anunciam o Reino de Deus entre nós, ouvimos, como suas, as palavras do apóstolo, brotando do silencioso sofrimento que o acompanhou em seus últimos dias: “combati o bom combate, terminei a corrida, guardei a fé. Desde agora, está reservada para mim a coroa da justiça que o Senhor, o juiz justo, me dará naquele dia” (2Tm 4,7s).
Como eleito predileto do Pai, dom Aloísio recebe agora “a coroa imperecível” dos que viveram com fidelidade sua vocação, na doação contínua e ininterrupta aos irmãos. Às vésperas do Natal, festa da vida e do amor, ele ouve o chamado do Redentor: “Servo bom e fiel, entra na alegria do teu Senhor” (Mt 25,21).

Brasília, 23 de dezembro de 2007

Dom Geraldo Lyrio Rocha
Arcebispo de Mariana
Presidente da CNBB

Dom Luiz Soares Vieira
Arcebispo de Manaus
Vice-presidente da CNBB

Dom Dimas Lara Barbosa
Bispo Auxiliar do Rio de Janeiro
Secretário Geral da CNBB

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Morre, em Porto Alegre, o Cardeal dom Aloísio Lorscheider


Faleceu na madrugada deste domingo, 23, o cardeal Aloísio Lorscheider, 83, arcebispo emérito de Aparecida (SP) e ex-presidente da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil. Ele estava internado no hospital São Francisco, na capital gaúcha, desde o dia 10 de dezembro quando sofreu uma convulsão de origem cardíaca. Seu corpo será velado na Catedral de Porto Alegre e o sepultamento será no Convento de Daltro Filho a 130 km de Porto Alegre. O dia e o horário do sepultamento ainda não foram definidos.
Gaúcho de Estrela, dom Aloísio, era franciscano e foi ordenado presbítero em 1948. Em 1962 foi ordenado bispo, assumindo a diocese de Santo Ângelo (RS) e tornou-se arcebispo de Fortaleza (CE) em 1973 onde ficou até 1995. Nesse ano, foi transferido para Aparecida (SP) tornando-se arcebispo emérito em 2004.
Entre as muitas atividades desenvolvidas pelo cardeal, destaca-se a presidência da CNBB, cargo que exerceu por dois mandatos de 1971 a 1978. Antes, foi secretário geral da instituição. Foi também presidente do Conselho Episcopal Latino-americano (CELAM) no período de 1976 a 1979.
Criado cardeal pelo papa Paulo VI, em 1976, dom Aloísio participou dos conclaves que elegeram os papas João Paulo I e João Paulo II, ambos em 1978.

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sexta-feira, 21 de dezembro de 2007

Carta de Dom Cappio anunciando o fim de seu jejum contra a transposição do Rio São Francisco


Sobradinho, 20 de dezembro de 2007
Advento do Senhor
Aos meus irmãos e irmãs do São Francisco, do Nordeste e do Brasil
Paz e Bem!
“Fortalecei as mãos enfraquecidas e firmai os joelhos debilitados. Dizei às pessoas deprimidas: ‘Criai ânimo, não tenhais medo! Vede, é vosso Deus, é a vingança que vem, é a recompensa de Deus: é Ele que vem para nos salvar’. Então se abrirão os olhos dos cegos e se descerrarão os ouvidos dos surdos. O coxo saltará como um cervo e se desatará a língua dos mudos”. (Isaías 35, 3-6)
No dia de ontem completei 36 anos de sacerdócio – 36 anos a serviço dos favelados de Petrópolis (RJ), dos trabalhadores da periferia de São Paulo e do povo dos sertões sem-fim do nordeste brasileiro. Ontem, vimos com desalento os poderosos festejarem a demonstração de subserviência do Judiciário. Ontem, quando minhas forças faltaram, recebi o socorro dos que me acompanham nesses longos e sofridos dias.
Mas nossa luta continua e está firmada no fundamento que a tudo sustenta: a fé no Deus da vida e na ação organizada dos pobres. Nossa luta maior é garantir a vida do rio São Francisco e de seu povo, garantir acesso à água e ao verdadeiro desenvolvimento para o conjunto das populações de todo o semi-árido, não só uma parte dele. Isso vale uma vida e sou feliz por me dedicar a esta causa, como parte de minha entrega ao Deus da Vida, à Água Viva que é Jesus e que se dá àqueles que vivem massacrados pelas estruturas que geram a opressão e a morte.
Uma de nossas grandes alegrias neste período foi ter visto o povo se levantando e reacendendo em seu coração a consciência da força da união, crianças e jovens cantando cantos de esperança e gritos de ordem com braços erguidos e olhos mirando o futuro que almejamos para o nosso Brasil querido. Um futuro onde todos, todos sem exceção de ninguém, tenham pão para comer, água para beber, terra para trabalhar, dignidade e cidadania.
Recebi com amor e respeito a solidariedade de cada um, próximo ou distante. Recebi com alegria a solidariedade de meus irmãos bispos, padres e pastores, que manifestaram de forma tão fraterna a sua compreensão sobre a gravidade do momento que vivemos. Através do seu posicionamento corajoso, a CNBB nos devolveu a esperança de vê-la voltar a ser o que sempre foi em seus tempos áureos: fiel a Jesus e seu Evangelho, uma instituição voltada às grandes causas do Brasil e do seu povo e com uma postura clara e determinada na defesa da dignidade da pessoa humana e de seus direitos inalienáveis, principalmente se posicionando do lado dos pobres e marginalizados desse país.
Ouvi com profundo respeito o apelo de meus familiares, amigos e das irmãs e irmãos de luta que me acompanham e que sempre me quiseram vivo e lutando pela vida. Lutando contra a destruição de nossa biodiversidade, de nossos rios, de nossa gente e contra a arrogância dos que querem transformar tudo em mercadoria e moeda de troca. Neste grande mutirão formado a partir de Sobradinho, vivemos um momento ímpar de intensa comunhão e exercício de solidariedade.
Depois desses 24 dias encerro meu jejum, mas não a minha luta que é também de vocês, que é nossa. Precisamos ampliar o debate, espalhar a informação verdadeira, fazer crescer nossa mobilização. Até derrotarmos este projeto de morte e conquistarmos o verdadeiro desenvolvimento para o semi-árido e o São Francisco. É por vocês, que lutaram comigo e trilham o mesmo caminho que eu encerro meu jejum. Sei que conto com vocês e vocês contam comigo para continuarmos nossa batalha para que “todos tenham vida e tenham vida em abundância”.
Dom Luiz Flávio Cappio


Morre Dom Sebastião Assis, bispo de Guiratinga

O bispo de Guiratinga (MT) e presidente do Regional Oeste 2 da CNBB, dom Sebastião Assis de Figueiredo, faleceu num acidente de automóvel a caminho de Cuiabá. Segundo o secretário da cúria diocesana, o automóvel dirigido por dom Sebastião derrapou na pista e bateu em outro veículo que trafegava em direção oposta. Chovia na hora do acidente que ocorreu por volta das 11 horas (horário local). Ainda segundo o secretário, dom Sebastião morreu no local do acidente e seu corpo foi levado para o hospital de Jaciara a 127 km de Cuiabá. O pároco da catedral de Guiritinga, padre José Fernandes, já está em Jaciara e aguarda o médico legista para a liberação do corpo de dom Sebastião que será velado na catedral de Guiratinga. Dom Sebastião, 58, era catarinense da cidade de Lages e foi ordenado padre em 1976, pertencendo à Ordem dos Frades Menores, também conhecida como Ordem dos Franciscanos. Em 2001 foi nomeado bispo de Guiritinga e adotou como lema episcopal “Senhor, estou aqui”.

quarta-feira, 19 de dezembro de 2007

Cardeal Aloísio Lorscheider continua internado na UTI


Continua internado em estado grave, na UTI do Hospital São Francisco da Santa Casa, em Porto Alegre, o arcebispo emérito de Aparecida (SP), cardeal Aloísio Lorscheider. Vítima de um AVC, o cardeal, internado desde o dia 28 de novembro, respira com ajuda de aparelhos, mas a pressão é normal, segundo os médicos que o assistem, Fernando Luchese, Roberto Maia e Eraldo Lúcio.
Gaúcho de Estrela, dom Aloísio, 83, é franciscano e foi ordenado presbítero em 1948. Em 1962 foi ordenado bispo, assumindo a diocese de Santo Ângelo (RS) e tornou-se arcebispo de Fortaleza (CE) em 1973 onde ficou até 1995. Nesse ano, foi transferido para Aparecida (SP) tornando-se emérito em 2004.
Entre as muitas atividades desenvolvidas pelo cardeal, destaca-se a presidência da CNBB, cargo que exerceu por dois mandatos entre 1971 a 1978. Antes, foi secretário geral da instituição. Foi também presidente do Conselho Episcopal Latino-americano (CELAM) no período de 1976 a 1979.
Criado cardeal pelo papa Paulo VI, em 1976, dom Aloísio participou dos conclaves que elegeram os papas João Paulo I e João Paulo II, ambos em 1978.


Dom Luiz Cappio apresenta contra-proposta ao Governo para suspensão de jejum

O secretário geral da CNBB, dom Dimas Lara Barbosa, reuniu-se na noite desta terça-feira, 18, durante mais de duas horas, com o chefe de gabinete da Presidência da República, Gilberto Carvalho, e com o membro da Comissão Pastoral da Terra (CPT), Roberto Malvezzi, representante de dom Luiz Cappio, para discutir a transposição do Rio São Francisco e a suspensão do jejum do religioso que, há 22 dias, protesta contra o projeto do Governo, em Sobradinho (BA). Participaram da reunião, também, dois representantes da Agência Nacional de Águas, três do Ministério da Integração Nacional e representantes da Caritas Brasileira, Conselho Indigenista Missionário (CIMI), Comissão Brasileira Justiça e Paz (CBJP), organismos ligados à CNBB, além de três assessores da CNBB.
Durante a reunião, Malvezzi, também conhecido como Gogó, apresentou uma contra proposta “de dom Luiz Cappio e dos Movimentos Sociais”, “face à proposta feita pelo Governo Federal para a suspensão do jejum de dom Cappio” e para “alimentar o diálogo e o entendimento”.
Das oito reivindicações contidas na contra-proposta, só não houve consenso nas duas primeiras que exigem a manutenção da suspensão das obras de transposição e a construção de uma “adução de 9m3/s de água para as áreas de maior déficit hídrico dos Estados de Pernambuco e da Paraíba, redimensionando o projeto atual de 28m3/s”.
Uma nova proposta surgida durante a reunião sugere a suspensão das obras pelo prazo de 60 dias e a realização, nesse período, de debate público sobre o projeto do Governo e as alternativas apresentadas pelo Atlas Nordeste, elaborado pela Agência Nacional de Águas. Esta proposta será levada ao presidente Lula e a dom Cappio por seus respectivos representantes. Uma segunda reunião deve acontecer na tarde de hoje para conhecimento da resposta de ambos.
Após a reunião, dom Dimas, Gilberto Carvalho e Malvezzi atenderam à imprensa. Abrindo a coletiva, dom Dimas recordou que Igreja defende o uso da água, em primeiro lugar, para o consumo humano e o uso de animais. Ele admitiu que a reunião não foi conclusiva. “Os membros do governo terão oportunidade de voltar e debruçar sobre as propostas e depois continuaremos nosso debate”, informou.
A seguir, a íntegra da coletiva.
1. Que avanços a reunião trouxe?
Malvezzi - Seis pontos da pauta que apresentamos são perfeitamente discutíveis. As divergências são mais de operacionalidade. O que não conseguimos acordar, nesse momento, mas que ficamos de conversar amanhã (hoje), são dois pontos: a suspensão das obras e a substituição do eixo Leste por uma adutora. Nisso ainda não há consenso e precisamos conversar mais. Mas há um consenso entre nós: todos queremos o dom Luiz vivo.
Gilberto - A reunião de hoje é uma espécie de instalação de uma assembléia permanente. Ao longo do dia teremos contatos amanhã (hoje) porque naturalmente são necessárias consultas de parte a parte sobre os pontos divergentes. Penso que foi um bom começo. Dos oito pontos, vimos que seis são contribuições importantes e que o Governo pode absorver; há compromissos que podemos assumir. Não há nenhum problema de participação da sociedade na continuação da política do semi-árido.
Com relação aos dois primeiros pontos, há divergências e nós continuaremos debatendo. O Governo apresentou a posição que se considera com legitimidade para realizar a obra, tendo realizado os debates que realizou. Portanto, tende a continuar a obra e, como já teria dito o presidente Lula, não interrompê-la. Por outro lado, há uma ponderação por parte do Roberto, representante do dom Luiz, que seria importante uma paralisação por um tempo e a abertura de um debate por dois meses para que se desse a dom Luiz a oportunidade de paralisar sua greve de fome. Concordo inteiramente com o Roberto que o ponto fundamental para nós é que o dom Luiz possa continuar vivo. No sábado, eu disse a dom Luiz: ‘dom Luiz, sua vida é muito importante até para continuar mobilizando contra o Governo’. Então, seguiremos amanhã (hoje) nesse esforço, fazendo as consultas de ambos os lados e esperamos chegar a um objetivo. Além dos seis pontos, há um consenso de que dom Luiz possa deixar com dignidade o jejum.
2. Sobre a proposta de suspensão da obra por dois meses que não consta na pauta apresentada...
Malvezzi - Caminhamos para uma situação de afunilamento que, nós que trabalhamos no Nordeste, no São Francisco, não queremos para a pessoa de dom Luiz. E o Governo também não quer. Isso passa também pela decisão amanhã (hoje) da Justiça e essas coisas podem influenciar. Mas vamos tentar achar um caminho amanhã (hoje) para que ele possa sentir que vale a pena parar.
3. É possível uma conversa do Governo, CNBB, amigos, familiares com dom Cappio pedindo-lhe que suspenda o jejum?
Malvezzi - Dom Luiz é traquejado em jejum. Não é que fez um ou dois jejuns públicos. Ele tem uma experiência acumulada. Há uma ermida na Chapada de Diamantina onde ele tem costume de fazer jejum em particular. Agora, no 22º dia ele ficou mais frágil. As comunidades já mandaram carta para ele (pedindo que suspenda o jejum) porque gostam dele e querem o trabalho dele, mas que ele não vá até o fim. O próprio Vaticano solicitou, os bispos também e as pessoas que comungam com a causa. Temos essa opinião, mas respeitamos a opinião dele. Ele não aceita interferência em sua decisão.
4. Quanto tempo ele ainda agüentaria?
Malvezzi - O frei Klaus, que é médico e acompanha pessoas em longo jejum, diz que uma pessoa pode agüentar muito tempo, mas depende da idade, da saúde e de vários fatores que podem influenciar. Até o 20o dia dom Luiz estava muito bem. Agora, sentimos que ele está mais frágil, embora o médico diga que as funções vitais estão todas normais. Mas ele está mais esgotado e precisa de repouso mais completo.
Gilberto - Com a vida humana não se brinca, não se pode fazer cálculo. Tanto a Igreja tem o princípio de defesa da vida, quanto o Estado tem o dever de zelar pela vida do cidadão. Por isso abrimos diálogo e dissemos que esses seis pontos não são simples e exigem uma ação do Governo, mudança de orçamento, mas estamos dispostos a flexibilizar, fazendo esse apelo para que dom Luiz visse nisso já uma vitória importante de sua mobilização e que continuasse seu protesto de outra forma e não arriscasse sua vida. Temos pressa nisso porque uma pessoa nessa idade pode ser tomada de algum outro tipo de oscilação. Por isso é que viemos à CNBB.
5. Qual o ponto que o Governo não admite conversar?
Gilberto - O único ponto efetivo é esse da paralisação das obras.
6. Nem só por dois meses para conversar?
Gilberto - Por isso é que eu digo que essa conversa não é definitiva. O Governo não considera nada definitivo. O Governo trouxe uma posição para o diálogo. Temos uma responsabilidade com o Estado. O presidente Lula sempre tem dito: ‘eu não posso ficar parando obras pelo protesto dessa ou daquela pessoa; desse ou daquele grupo, por mais importantes que sejam’. Há uma legitimidade do Governo, uma lei estabelecida. O ponto de partida é esse de não paralisar a obra. Agora, houve um diálogo que vai ser retomado amanhã (hoje). Por isso é que essa conversa não é de maneira alguma conclusiva e definitiva.
7. A proposta de dois meses partiu do bispo?
Gilberto - Na verdade ela surgiu na mesa, por isso é preciso fazer consulta de um lado e de outro.
8. Pode-se dizer que isso será encaminhado amanhã (hoje) e que as obras serão paralisadas por dois meses para discussão?
Malvezzi - A gente se compromete a buscar uma saída, porque a questão da vida de dom Cappio interessa a todos nós. Não é bom para ninguém acontecer o pior. Quando o Governo faz observação das perdas econômicas, nós fazemos observações de outros danos como os sociais.
Dom Dimas - Uma coisa importante a dizer e que é consenso entre nós é que, independente da decisão do Supremo amanhã (hoje), esse diálogo vai continuar. Quem tiver a vitória não vai obrigar o outro a mudar de posicionamento. Todos concordamos que essa mobilização conseguida por dom Luiz fez com que nossa consciência crescesse. Tanto a parte do Governo quanto a parte dos próprios movimentos envolvidos concordam que esses pontos de consenso podem ser implementados, inclusive com um debate em rede a ser encabeçada pela própria TV pública e com a participação das outras TVs que quiserem.
9. Se o Supremo cassar a liminar que suspende as obras, o Governo vai retomá-las antes do desfecho dessa conversa com o bispo?
Gilberto - A princípio já foi noticiado que, mesmo se o Supremo autorizar a continuidade das obras, elas serão retomadas só no dia 7 de janeiro. É um recesso que o exército faria. Sustentamos, até agora, essa posição sem que prejudique que analisemos a proposta levantada nessa noite. É importante a decisão do Supremo amanhã (hoje), mas ela não interfere sob o ponto de vista da ética de nosso debate que precisa continuar.
10. O acordo vai girar em torno dessa proposta de dois meses?
Gilberto - Tanto eu quanto o Roberto temos dificuldade de responder a essa pergunta porque estamos no meio de uma conversa. Resolvemos parar porque vocês (os jornalistas) estavam cansados aqui e nós também. Vamos retomar amanhã (hoje) e ainda é muito cedo para dizer que vai ser isso ou aquilo. Essa possibilidade de uma paralisação temporária de um lado e de outro é que vamos discutir.
Dom Dimas - Vamos notificar dom Luiz e os outros que estão com ele sobre o que aconteceu aqui. Em última análise a decisão vai ser dele.
11. Isso evitaria um desgaste dos dois lados...
Malvezzi - Não diria um desgaste porque a questão chave é a vida dele. Não vejo problema a gente poder concordar em seis ou sete pontos e manter divergência em um e continuar debatendo na sociedade por outros caminhos que a gente acha melhor. Essa é uma questão ética e não é à toa que estamos aqui na CNBB que, na Campanha da Fraternidade sobre a água, defendeu a necessidade de fazer chegar a água chega às populações. Não somos nós que vamos colocar obstáculo àquilo que for nesse sentido. Somos favoráveis ao que está proposto no Atlas Nordeste.
Dom Dimas - Existe uma desinformação muito grande acerca do que está sendo debatido. A grande maioria da população nem sabe porque dom Luiz está em greve. Inclusive existe um mal estar entre as populações dos Estados receptores e a dos Estados doadores porque a notícia mais difusa é, simplesmente, que tem um bispo em greve porque ele não quer dar água para quem está passando sede. Pelo contrário, o que se quer é dar prioridade em todo o semi-árido brasileiro. Recebemos como uma noticia extremamente alvissareira que o Atlas Nordeste vai ser refinado para atingir também os municípios com menos de cinco mil habitantes. O que queremos é justamente levar água para o maior número possível de pessoas, inclusive para as famílias dispersas, a população difusa de todo o semi-árido. Nossa prioridade é o ser humano.

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Nomeação de Bispo

Hoje, 19 de dezembro, o papa Bento XVI acolhendo a solicitação de dom Alano Maria Pena, OP, de poder contar com a colaboração de um bispo auxiliar, nomeou bispo titular de “Accia” e auxiliar em Niterói (RJ) o padre Roberto Francisco Ferreira Paz.
Padre Roberto é natural de Montevidéu (Uruguai) e filho de Roberto Angel Ferrería e Gloria Paz de Ferrería.
Fez seus estudos eclesiásticos na Faculdade de Teologia da PUC-RS e Mestrado em Direito Canônico no Instituto Arquidiocesano de Direito Canônico do Rio de Janeiro. Além disso, tem especializações em Notariado Eclesiástico, Direito Matrimonial Católico, Aperfeiçoamento para juízes e funcionários de Tribunais Eclesiásticos, Bioética, Ética em Pesquisa, Espiritualidade, Bioética e tradições religiosas.
O presbítero atuou como vigário judicial do Regional Sul 3 da CNBB (Rio Grande do Sul), vigário episcopal da Pastoral da Cultura e conselheiro do Serviço Interconfissional de Aconselhamento, diretor espiritual regional do Encontro de Casais com Cristo no Rio Grande do Sul e Santa Catarina, pároco do Santuário N. Sra. da Paz, representante católico do Grupo de Diálogo inter-religioso de Porto Alegre, professor de Direito Canônico e de Direito Eclesiástico da PUC-RS e do CETJOV, membro do Conselho de Presbíteros e do Colégio de Consultores da arquidiocese de Porto Alegre, delegado arquidiocesano na Comissão Regional de Ecumenismo, coordenador de Pastoral da Área Petrópolis, secretário do Comitê de Ética em Pesquisa do Hospital Cardiologia, porta-voz da arquidiocese de Porto Alegre, assistente eclesiástico do Jornal Novo Milênio, assistente eclesiástico da Associação de Dirigentes Cristãos de Empresa.
Padre Roberto participou de entidades e Organizações Não-Governamentais. Foi membro fundador do Movimento de Profissionais Católicos, da Associação de Juristas Católicos, do Grupo de Diálogo inter-religioso em Porto Alegre e membro da Associação Brasileira de Canonistas.
Atualmente é pároco do Santuário Nossa Senhora da Paz, em Porto Alegre.

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segunda-feira, 17 de dezembro de 2007

quarta-feira, 12 de dezembro de 2007

Papa nomeia bispo para Balsas

O papa Bento XVI nomeou hoje, 12, bispo da vacante diocese de Balsas (MA) o padre Enemésio Ângelo Lazzaris, FDB (Filhos da Divina Providência - Orionita), atualmente é vigário geral da Congregação, em Roma, Itália.
Padre Enemésio nasceu no dia 19 de dezembro de 1948, na cidade de Siderópolis, diocese de Tubarão (SC). Aos 13 anos de idade ingressou na Congregação da Pequena Obra da Divina Providência. Fez a primeira profissão aos 11 de fevereiro de 1966 e, após 8 anos realizou a profissão perpétua. Foi ordenado sacerdote aos 26 de julho de 1975. Cursou Filosofia e Teologia, respectivamente, na Faculdade de Ipiranga em São Paulo e na Pontifícia Universidade de Belo Horizonte (MG). Cursou Mestrado em Teologia, com especialização em Espiritualidade na Teresianum, em Roma.
O religioso foi formador e promotor vocacional em Belo Horizonte; diretor do Lar dos Meninos e do seminário Dom Carlos Sterpi, de Belo Horizonte; pároco da Paróquia Sagrado Coração de Jesus, em Araguaína, diocese de Tocantinópolis (TO) e vigário da Comunidade Dom Orione; diretor da comunidade “Instituto de Artes e Ofícios Divina Providência”, da cidade do Rio de Janeiro; Superior provincial da Província Norte do Brasil. Atualmente padre Enemésio é vigário geral da Congregação, em Roma, Itália.

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Audiência da CNBB com o Presidente Lula


Terminou há pouco, no Palácio do Planalto, a audiência do presidente da CNBB, dom Geraldo Lyrio Rocha, com o presidente da República, Luiz Inácio Lula da Silva. No encontro, dom Geraldo Lyrio expressou ao presidente Lula “a preocupação da CNBB com relação à pessoa e à vida” de dom Luís Flávio Cappio, em jejum 17 dias em Sobradinho (BA), contra a transposição do Rio São Francisco.
“Colocamo-nos à disposição para colaborar na retomada do diálogo entre o Governo e Dom Luiz Flávio Cappio”, diz o documento entregue ao presidente Lula. A respeito da transposição do Rio São Francisco, a sugestão da CNBB é a criação de uma “Comissão para estudar melhor o atual Projeto e analisar também as propostas que têm sido elaboradas por entidades governamentais, especialistas e movimentos sociais que consideram, também, a revitalização e a despoluição do Rio São Francisco”. Também o secretário-geral da CNBB, dom Dimas Lara Barbosa, participou da audiência no Palácio do Planalto.
Leia, abaixo, a íntegra do “Pró-memória” entregue ao presidente Lula.
Pró-memóriaEncontro da Presidência da CNBB com o Excelentíssimo Senhor Presidente da República Luiz Inácio Lula da Silva


Senhor Presidente,
Dirigimo-nos a Vossa Excelência, com respeito e consideração, para demonstrar a preocupação da CNBB com relação à pessoa e à vida de nosso irmão Dom Frei Luiz Flávio Cappio, OFM, Bispo Diocesano da Barra-BA que, desde o dia 27 de novembro p. passado, se encontra em jejum e oração, em Sobradinho – BA, motivado por suas preocupações diante da implementação do Projeto de Transposição do Rio São Francisco, com todas as suas conseqüências e implicações.
No ano de 2005, Dom Frei Luiz Flávio Cappio realizou, durante onze dias, igual iniciativa em Cabrobó – PE. O encerramento do jejum ocorreu, aos 06 de outubro de 2005, após a ida do então Ministro das Relações Institucionais, Senhor Jaques Wagner, representando Vossa Excelência.
No dia 15 de dezembro de 2005, Vossa Excelência recebeu em audiência Dom Luiz Flávio Cappio e representantes de movimentos sociais, quando foi confirmado o compromisso da realização de um processo de diálogo, sendo criada uma Comissão mista com representantes do Governo e da Sociedade, intermediada pela Casa Civil e Secretaria Geral.
Não obstante os esforços feitos, a Comissão não atendeu plenamente os objetivos propostos porque não conseguiu obter consensos mais amplos.
A CNBB tem reafirmado a necessidade de ser resolvido o grave problema da água para as populações do semi-árido brasileiro.
Entretanto, por causa da complexidade do Projeto de Transposição do Rio São Francisco, - com suas implicações sociais, econômicas, culturais e ambientais -, julgamos que ainda seria necessário maior discussão, envolvendo as populações ribeirinhas, pescadores, indígenas, quilombolas, cientistas, especialistas e outros setores interessados. O atual Projeto deveria ser mais analisado, considerando inclusive outras alternativas que garantam água de qualidade para o povo Nordestino, entre elas o Projeto 1 milhão de cisternas.
Colocamo-nos à disposição para colaborar na retomada do diálogo entre o Governo e Dom Luiz Flávio Cappio. Sugerimos a criação de uma Comissão para estudar melhor o atual Projeto e analisar também as propostas que têm sido elaboradas por entidades governamentais, especialistas e movimentos sociais que consideram, também, a revitalização e a despoluição do Rio São Francisco.
Com estas propostas, a CNBB quer contribuir para a superação do impasse do momento atual e, ao mesmo tempo, reafirmar seu propósito de continuar participando das iniciativas que buscam garantir água para o semi-árido brasileiro, a fim de que “todos tenham vida” (cf. Jo 10,10).
Brasília, 12 de dezembro de 2007
DOM GERALDO LYRIO ROCHA

Arcebispo de MarianaPresidente da CNBB
DOM DIMAS LARA BARBOSA

Bispo Auxiliar do Rio de Janeiro e Secretário Geral da CNBB

segunda-feira, 10 de dezembro de 2007

Nota do Conselho Nacional de Igrejas Cristãs do Brasil- CONIC

A Diretoria do CONIC, reunida em Brasília-DF no dia 05/12/2007, emite a seguinte nota.
Dom Frei Luiz Flávio Cappio, bispo católico de Barra (BA), movido pela longa experiência de religiosa dedicação ao povo pobre do sertão e pelo profundo conhecimento da degradação ambiental que afeta o Rio São Francisco, no dia 27/11/2007, retornou ao jejum em defesa da sua revitalização e contra a transposição de suas águas. Em carta dirigida ao Presidente da República declara ter sido enganado pelas autoridades quando da interrupção da primeira greve de fome.
O Conselho Nacional de Igrejas Cristãs do Brasil entende que o ato extremo de Dom Frei Luiz supera o campo puramente político e se situa na dimensão simbólica e religiosa. O bispo tem declarado e demonstrado com suas ações a vontade de doar a vida em favor da causa do povo do sertão, com quem ele convive há anos partilhando necessidades e sofrimentos, esperanças e lutas. Esse ato pode resultar incompreensível para muitas pessoas e parecer uma chantagem para membros do governo, mas é de acordo com a mais autêntica tradição cristã pontilhada de mártires.
A decisão do bispo denuncia a ausência de ética no projeto de transposição e é coerente com os compromissos assumidos em 06/10/2005 por ele e o Presidente da República. O amplo diálogo prometido entre o governo e a sociedade civil foi bruscamente interrompido com o início das obras pelo exército brasileiro, inclusive com canteiros instalados em territórios indígenas, fato fora do comum em países democráticos.
O CONIC, que participa dos projetos de construção de cisternas desde a Campanha da Fraternidade Ecumênica de 2005, defende o direito humano de acesso à água a ser gerenciado como um bem público de necessidade vital, e apóia as ações de Dom Frei Luiz e de organizações da sociedade civil em favor do abastecimento de água para toda a população e da revitalização do Rio São Francisco. Insiste ainda na retomada imediata do diálogo com a sociedade civil, no qual sejam tidas em séria consideração as propostas alternativas – especialmente as do Atlas do Nordeste apresentadas pela Agência Nacional de Águas (ANA) e do Projeto Cisternas. Estas garantem o abastecimento de água com recursos hídricos próprios do semi-árido para uma população de 44 milhões de pessoas, bem maior daquela que seria servida pelo projeto de transposição e com a metade do custo.
Atos como o de Dom Luiz Cappio e as atitudes das autoridades brasileiras são acompanhados com atenção e apreensão, não somente no Brasil, mas em muitos outros países. Objetivando evitar conseqüências nefastas para as populações envolvidas no projeto, instamos as autoridades a agir de maneira essencialmente democrática para o justo equacionamento desta relevante questão.
O CONIC entende o gesto extremo de Dom Frei Luiz como um testemunho cristão, une-se a ele em oração, preocupa-se com a sua saúde e a sua vida e reafirma o propósito de defender os direitos humanos das populações do semi-árido, a democratização do uso da água, a revitalização do Rio São Francisco, metas que, a nosso ver, não estão contempladas no projeto de transposição.

Brasília-DF, 05 de dezembro de 2007.
Pastor Sinodal Carlos Augusto Möller - IECLB Dom José Alberto Moura – ICAR
Presidente 1º Vice-Presidente

Bispo Filadelfo Oliveira Neto – IEAB Rev. Gerson Antônio Urban – IPU
2º Vice—Presidente 3º Vice-Presidente

Lídia Fernanda Crespo Correia – IEAB Janette Ludwig – IECLB
Tesoureira Secretária

Dom Luiz Cappio: jejum ou greve de fome?

Jung Mo Sung*
Dom Luiz Cappio, na sua luta contra a obra de transposição do Rio São Francisco, retomou o que ele chama de "jejum e oração". Um bispo católico em jejum contra uma obra tão polêmica como essa não poderia ficar fora do noticiário dos grandes jornais e também das TVs.Eu não quero discutir aqui se essa obra beneficia ou não o povo nordestino, e nem se o bispo está correto ou não fazendo esse jejum, (pois isto exigiria discutir muitas questões técnicas que eu não tenho conhecimento suficiente), mas sim a linguagem usada pelos meios de comunicação para falar desse "protesto" do bispo. Quase todos os jornais, TVs, sites e rádios, sejam grandes ou "alternativos" (incluindo aqui o Adital) estão usando indistintamente a palavra "jejum" e a expressão "greve de fome", como se elas fossem sinônimas. Entretanto, Dom Cappio, na sua "Carta ao Povo de Nordeste", de 30 de novembro de 2007, só fala de "jejum e oração" e não usa nenhuma vez a expressão greve de fome.Jejum e greve de fome são sinônimos?À primeira vista, essas expressões parecem ser intercambiáveis, mas, se olharmos com cuidado, podemos ver que há situações em que não são. Por exemplo, um prisioneiro político não faz "jejum e oração", mas sim greve de fome para protestar ou para marcar uma posição política; assim como um grupo religioso não faz greve de fome como um "exercício espiritual", mas sim jejum e oração. Isto nos mostra que nos extremos há uma diferença importante entre a greve de fome e jejum. A primeira está mais ligada ao campo político, enquanto que a segunda vem das tradições religiosas. O problema é que a realidade não é tão clara como os extremos, mas em geral é feita de ambigüidades e sombras que marcam a região que fica entre os extremos. É o caso do "jejum" do dom Cappio. Ele diz que é "jejum e oração", mas até os seus defensores usam indistintamente "jejum" e "greve de fome".A confusão ou uso indistinto de jejum e greve de fome para se referir ao "protesto" do dom Cappio tem a ver com a relação entre a fé e política ou entre a religião e política. Não precisamos entrar novamente na discussão sobre como a fé e a religião têm relações com a política, mas também não podemos esquecer que se a fé tem relação com a política, ela não é (igual a) política. Pois, se não houvesse diferença entre ambas, não haveria relação. Esta distinção é importante não só para entendermos o ato de dom Cappio, mas também para potencializarmos esses tipos de ações.O jejum de dom Cappio tem a cobertura na mídia que tem porque ele é um bispo da igreja católica. Se ele fosse um simples homem comum, ninguém estaria dando muita atenção. Por outro lado, se ele estivesse fazendo somente um discurso ou ato político, também teria pouca repercussão ou seria visto simplesmente como um bispo "fazendo política", isto é, extrapolando o seu campo de atuação ou função. Mas, como ele está fazendo ‘jejum e oração" (um ato religioso), protestando contra a obra da transposição (ato sócio-político), cria um impacto.A força social e política da ação de um agente religioso (ou de uma instituição religiosa) repousa, em parte, na credibilidade da religião que professa. Portanto, as ações de um bispo (ou de um/a outro/a agente reconhecido pela sociedade como religioso/a) têm impacto na consciência social e modifica as relações de força na sociedade na medida em que é uma ação religiosa, e, portanto, carregada de força simbólica. Sem o peso do simbolismo de um bispo fazendo "jejum e oração" à beira de um rio na defesa das comunidades pobres do nordeste, esta "greve de fome" teria muito pouco impacto. Por isso, eu penso que devemos nomear a ação do dom Cappio como "jejum e oração" (como ele nomeia corretamente) e não como greve de fome.Isto não é uma mera questão de semântica; expressa também uma forma de ver a relação entre a religião e sociedade/política. Ações religiosas ou ações humanas que expressam a fé religiosa em dado contexto histórico têm implicações sociais e políticas, queremos ou não; mas nem por isso deixam de ser ações religiosas. Não perceber o caráter espiritual-religioso do jejum e oração e reduzi-lo a um simples protesto social ou político, greve de fome, é um equívoco que enfraquece a força transformadora da fé.

* Professor de pós-grad. em Ciências da Religião da Univ. Metodista de S. Paulo e autor de Sementes de esperança: a fé em um mundo em crise

segunda-feira, 3 de dezembro de 2007

Carta de Dom Cappio para os Nordestinos

Queridos Irmãos e Irmãs Nordestinos, do Ceará, do Rio Grande do Norte, da Paraíba e do Pernambuco,

Paz e Bem!

Quando encerrei o jejum de 11 dias em Cabrobó, há dois anos atrás, acreditei sinceramente que o governo federal cumpriria sua palavra empenhada no acordo que assinamos. Este acordo estabelecia um amplo, transparente e participativo debate nacional sobre o desenvolvimento do Semi-árido e da Bacia do São Francisco. Acreditávamos piamente que se esse debate fosse verdadeiro seriam esclarecidas as reais necessidades e potencialidades do Semi-árido, e ficaria evidente que a transposição não era necessária nem conveniente ao povo nem ao rio. As águas abundantes do semi-árido falariam por si. E os projetos alternativos existentes se imporiam, como as obras do Atlas Nordeste para o meio urbano e as experiências da ASA – Articulação do Semi-Árido para o meio rural.
O governo não cumpriu o prometido, abortou o debate apenas iniciado, ganhou as eleições e colocou o Exército para começar as obras da transposição. Movimentos e entidades da sociedade organizada intensificaram as mobilizações e os protestos, mas o governo se fez de surdo. Diante disso, não me restou outra alternativa senão retomar o jejum e oração, como havia dito que faria se o acordo não fosse cumprido. Para isso escolhi a capela de São Francisco, em Sobradinho – BA, bem próximo da barragem de Sobradinho, que há 30 anos passou a ser o coração artificial do Rio São Francisco, um doente em estado terminal.
Sei que meu gesto causará estranheza e incompreensões em muitos de vocês. Não os culpo por isso. Há gerações vem sido dito a vocês que só a grande obra da transposição “resolve” a seca. Entre os maiores interessados nela estão pessoas que vocês bem conhecem, pois são as mesmas que há muitos anos dominam e exploram a região usando o discurso da seca para desviar dinheiro público e ganhar eleições.
A seca não é um problema que se resolve com grandes obras. Foram construídos 70 mil açudes no Semi-árido, com capacidade para 36 bilhões de metros cúbicos de água. Faltam as adutoras e canais que levem essa água a quem precisa. Muitas dessas obras estão paradas, como a reforma agrária que não anda. Levar maiores ou menores porções do São Francisco vai tornar cara toda essa água existente e estabelecer a cobrança pela água bruta em todo o Nordeste. O povo, principalmente das cidades, é quem vai subsidiar os usos econômicos, como a irrigação de frutas nobres, criação de camarão e produção de aço, destinadas à exportação. Assim já acontece com a energia, que é mais barata para as empresas e bem mais cara para nós. Essa é a verdadeira finalidade da transposição, escondida de vocês. Os canais passariam longe dos sertões mais secos, em direção de onde já tem água.
Portanto, não estou contra o sagrado direito de vocês à água. Muito pelo contrário, estou colocando minha vida em risco para que esse direito não seja mais uma vez manipulado, chantageado e desrespeitado, como sempre foi. Luto por soluções verdadeiras para a vida plena do povo sertanejo – isso tem sido minha vida de 33 anos como padre e bispo do sertão. É, pois, um gesto de amor à vida, à justiça e à igualdade que nunca reinaram no Semi-árido, seja aí, seja aqui no São Francisco, longe ou perto do rio.
Agora mesmo é grande o sofrimento do povo não muito distante do rio e do lago de Sobradinho que, em função da energia para um desenvolvimento contra o povo, está com apenas 14%. Um projeto de R$13 milhões que resolveria o abastecimento dos quatro municípios da borda do lago espera desde 2001 pelo interesse dos governantes...
O São Francisco precisa urgentemente de cuidados, não de mais um uso ganancioso que se soma aos muitos que lhe foram impostos e o estão destruindo. Como lhes disse da outra vez, fosse a transposição solução real para as dificuldades de água de vocês, eu estaria na linha de frente da luta de vocês por ela.
O que precisamos, não só no Nordeste, é construir uma nova mentalidade a respeito da água, combater o desperdício, valorizar cada gota disponível, para que não ela não falte à reprodução da vida, não só a humana. Precisamos repensar o que estamos fazendo dos bens da terra, repensar os rumos do Brasil e do mundo. Ou estaremos condenados à destruição de nossa casa e à nossa própria extinção, contra o Projeto de Deus.

Senhor, Deus da Vida, ajude-nos! “Para que todos tenham vida!” (João 10,10).

Recebam meu abraço e minha benção,


Dom Luiz Flávio Cappio, Ofm.

Sobradinho - BA, 29 de novembro de 2007.

http://www.arquidiocesesalvador.org.br/conteudo.php?ID=2215

Dom Luiz Cappio reinicia jejum em defesa do Rio São Francisco


Dom Tomás Balduino, conselheiro permanente da CPT, protocolou no Palácio do Planalto , em Brasília, carta de Dom Luiz Flávio Cappio, bispo diocesano de Barra (BA), em que comunica ao presidente Lula sua decisão de retomar seu jejum em defesa do São Francisco.

Na mesma hora Dom Cappio reiniciou seu jejum na Capela de São Francisco, em Sobradinho (BA), ao pé da barragem de Sobradinho, chamando a atenção para o estado de mingua em que se encontra o rio. O lago vem diminuindo suas reservas e nesse momento se encontra com menos de 14% da sua capacidade. Esta retomada do jejum acontece, pouco mais de dois anos depois em que o franciscano passou 11 dias em jejum, em Cabrobó (PE).
Entre os argumentos para reiniciar o ato está o compromisso firmado entre ele e o presidente, de “suspender o projeto de transposição e iniciar um amplo diálogo governo e sociedade civil brasileira” em que a resposta foi “o início da obra de transposição pelo exército”.
Dessa vez a condicionante para o desfecho do jejum é a “retirada do exército do eixo norte e do eixo leste e o arquivamento definitivo do projeto de transposição de águas do rio São Francisco”.

Retrospectiva
Acompanhe os principais acontecimentos desde que a equipe do presidente Lula desengavetou o projeto de transposição de águas do rio São Francisco e organizações sociais, movimentos populares, povos e comunidades tradicionais intensificaram os atos pelo arquivamento definitivo do projeto.

2004
Lula desengaveta o projeto da transposição.
2005
26/09 a 06/10 – O Dom Luiz Flávio Cappio, faz jejum contra o projeto de transposição, em Cabrobó (PE). O presidente Lula, pressionado, envia o então ministro Jaques Wagner para negociar. A “greve de fome” encerra mediante a assinatura de um acordo.
- Formação da comissão para negociação e debate entre governo e organizações sociais.
Novembro – O Ministério Público Federal e o da Bahia, além do Fórum Permanente em defesa do São Francisco na Bahia, entram com nova ação junto ao Supremo Tribunal Federal (STF), pedem a suspensão do processo de licenciamento ambiental em trâmite no Ibama.
15/12 – Primeira audiência do presidente Lula com a comissão de negociação e Dom Luiz Cappio.
2006
23/02 – Ofício é protocolado para o presidente Lula cobrando agenda para debate público sobre o projeto de transposição, prometido pelo governo desde outubro de 2005. Assinam o documento Dom Tomaz Balduino, pela CPT, Dom Luiz Cappio, Ministério Público e Comitê da Bacia Hidrográfica do São Francisco.
06 e 07/07 – Oficina de trabalho sobre desenvolvimento do semi-árido, entre representantes da sociedade civil e do governo federal, criação de três câmaras temáticas para aprofundar as questões sobre revitalização.
04 a 07/10 – Acampamento de Mobilização e Formação de Cabrobó (PE).
10/11 – Tribunal de Contas da União publica Relatório de Auditoria Operacional do Projeto de Integração do Rio São Francisco com Bacias Hidrográficas do Nordeste Setentrional, e faz recomendações ao Ministério da Integração.
Dezembro – Lançamento do Atlas Nordeste, da Agência Nacional de Águas (ANA), com propostas alternativas para abastecimento em áreas urbanas de municípios com 5 mil a mais habitantes, nos nove estados do Nordeste e mais o norte de Minas Gerais.
19/12 – O então Ministro Sepúlveda Pertence (STF) derruba as 11 liminares que impediam o início das obras do projeto de transposição.
2007
22/01 – Lançamento do PAC – recursos públicos no PAC destinados ao projeto de transposição: R$ 6,6 bilhões, no período 2007 a 2010.
05/02 - Fórum Permanente de Defesa do São Francisco na Bahia entra com recurso no STF contra a decisão do ministro Sepúlveda Pertence que suspendeu as liminares.
12/02 – Procurador Geral da República, Fernando Antonio de Souza, entra com recurso no Supremo Tribunal Federal e pede a cassação da licença ambiental para obra da transposição.
21/02 – D. Luiz protocola carta à Lula reivindicando a retomada do diálogo.
Março - O Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos recursos Naturais Renováveis (IBAMA) concede licença ambiental e autoriza o início das obras da transposição.
12 a 16/03 – Acampamento em Brasília “Pela vida do rio São Francisco e do Nordeste, contra a transposição”, com mais de 600 pessoas da Bacia do Rio São Francisco e de outros estados, como Ceará e São Paulo.
16/03 – Geddel Vieira Lima é nomeado ministro da Integração Nacional no lugar de Pedro Brito.
16/04 – OAB/SE entra com ação contra o projeto do governo federal, de transposição do Rio São Francisco. Documento com 150 laudas traz estudos do Banco Mundial, relatos sobre a situação hídrica do Ceará, a escassez por má distribuição e a afirmação que seria sete vezes mais barato fazer obras para abastecimento no chamado Nordeste Setentrional.
Maio – Exército reforça grupamentos que tocam a primeira parte da obra na área da tomada de água dos eixos norte e leste do projeto de transposição.
04/06 - Carta cobra de Geddel cumprimento de acordo firmado pelo governo federal, desde 2005. Assinam: Dom Luiz Cappio, Adriano Martins, Yvonilde Medeiros, Jonas Dantas (Fórum Permanente de Defesa do São Francisco), Luciana Khoury (Ministério Público da Bahia); Subscrevem: ASA (Articulação do Semi Árido), Frente Cearense por Uma Nova Cultura das Águas; Fórum Sergipano, Via Campesina Brasil, MST Brasil, comunidades quilombolas, pescadores e povos indígenas da Bacia, Ministério Público de Sergipe, professores João Suassuna e João Abner.
26/06 a 04/07 - Mais de 1500 pessoas ocupam o canteiro das obras do eixo norte do projeto de transposição, em Cabrobó (PE). Nos dias seguintes índios Trukás e Tumbalalás ocupam e retomam terras na mesma região.
Julho - Procurador geral da República, Antonio Fernando de Barros, entra com petição em que pede a suspensão imediata das obras de transposição.
19/08 a 01/09 – Caravana em defesa do rio São Francisco: contra a transposição e por uma nova estratégia em relação ao semi-árido brasileiro percorre 11 cidades.
10 a 14/09 – Mutirão de trabalho na região do eixo leste do projeto de transposição.
03 a 10/11 – Mutirão de trabalhos na região do eixo norte do projeto de transposição.
27/11 – Dom Luiz Cappio retoma greve de fome e afirma que só irá cessar o ato se o exército for retirado da região e o projeto for arquivado definitivamente.

A Carta do Bispo
Senhor Presidente
Paz e Bem!
No dia 6/1 0/05, em Cabrobó-PE, assumimos juntos um compromisso: o de suspender o processo de Transposição de Águas do Rio São Francisco e iniciar um amplo diálogo, governo e sociedade civil brasileira, na busca de alternativas para. o desenvolvimento sustentável para todo o semi-árido. Diante disso suspendi o jejum e acreditei no pacto e no entendimento.
Dois anos se passaram, o diálogo foi apenas iniciado e logo interrompido.
Já existem propostas concretas para garantir o abastecimento de água para toda a população do semi-árido: as Ações previstas no Atlas do Nordeste apresentada pela Agência Nacional de Águas (ANA) e as ações desenvolvidas pela Articulação do SemiÁrido (ASA).
No dia 22 de fevereiro de 2007 protocolei no Palácio do Planalto documento solicitando a reabertura e continuidade do diálogo, e que fosse verdadeiro, transparente e participativo. Sua resposta foi o início das obras de transposição pelo exército brasileiro.
O senhor não cumpriu sua palavra. O senhor não honrou nosso compromisso. Enganou a mim e a toda a sociedade brasileira.
Uma nação só se constrói com um povo que seja sério, a partir de seus dirigentes. A dignidade e a honradez são requisitos indispensáveis para a cidadania.
Portanto retomo o meu jejum e oração. E só será suspenso com a retirada do exército nas obras do eixo norte e do eixo leste e o arquivamento definitivo do Projeto de Transposição de águas do Rio São Francisco. Não existe outra alternativa.
Acredito que as forças interessadas no projeto usarão de todos os meios para desmoralizar nossa luta e confundir a opinião pública. Mas quando Jesus se dispôs a doar a vida, não teve medo da cruz. Aceitou ser crucificado, pois este seria o preço a ser pago.
A vida do rio e do seu povo ou a morte de um cidadão brasileiro.
"Quando a razão se extingue, a loucura é o caminho."
Que o Deus da Vida seja penhor de Vida Plena.
“O Brasil é uma terra de grandezas. Terá dirigentes com a mesma grandeza?” (Bourdoukan Georges in “Capitão Mouro”).

Dom Frei Luiz Flávio Cappio,OFM - Bispo Diocesano de Barra

Advento: "Vem Senhor Jesus!"


No final de semana que passou iniciamos o Tempo Santo do Advento. Unamo-nos com todo o Povo de Deus que aguarda mais uma vinda do Salvador.


Thiago