segunda-feira, 24 de setembro de 2007

Carta do I Fórum da Igreja Católica no Rio Grande do Sul


Os participantes do I Fórum da Igreja Católica no Rio Grande do Sul, realizado em Porto Alegre, de 20 a 23 de setembro de 2007, relatam um pouco do que viram, ouviram e experimentaram nestes dias de convivência fraterna. Convocado pelos Bispos, em parceria com a Conferência dos Religiosos do Brasil - Regional Sul 3, o Fórum é resultado de um esforço participativo, trabalho em mutirão, envolvendo paróquias e comunidades eclesiais de base. Refletiu sobre a vida e a missão da Igreja, à luz do lema: “A Vida se manifestou, nós a vimos e a testemunhamos” (1 Jo 1,1-2). Hospedado na Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul, o Fórum visibilizou a Igreja em 172 tendas, 101 grupos de trabalho em oficinas temáticas, 06 seminários transversais, 04 conferências, celebrações da Palavra e da Eucaristia, diferentes manifestações artísticas e culturais.
Nos Fóruns Locais, aconteceu o diálogo com a sociedade, exercício de cidadania e de maturidade da Igreja, concretizado em pesquisas junto ao povo e em estudos sobre a missão da Igreja em seu compromisso com a vida em abundância para todos.
Um novo jeito de ser Igreja foi experimentado e um espaço de participação foi aberto a todas as pessoas de boa vontade. Nos caminhos do Fórum apareceram as marcas da evangelização no contexto da realidade atual, na fidelidade à inculturação, recuperando as raízes culturais, as tradições religiosas e a história do anúncio do Evangelho, verdadeiros tecidos da identidade e da maneira gaúcha de ser Igreja.
O olhar sobre o passado revelou uma história de presença divina, antes mesmo da presença do cristianismo; foram identificadas falhas em relação à tradição indígena e em relação à escravidão dos povos africanos. Por outro lado, afirmou-se a presença humanizadora da Igreja nos diferentes momentos da história; foram lembradas as vítimas da violência e da ganância, valorizando quem deu sua vida em defesa da justiça e do Evangelho.
A análise do presente trouxe a consciência das transformações atuais na sociedade, no pensamento, nas relações econômicas, na política, na cultura, nas ciências e nos meios de comunicação. Diante da mudança de época, sentiram-se os desafios para a ação evangelizadora da Igreja relativos aos problemas do trabalho, da violência e das mudanças climáticas. Percebeu-se a situação difícil de tantas irmãs e irmãos excluídos dos projetos tecnológicos e do sistema econômico, longe da escola e da família.
Como luz do caminho, testemunhado nos evangelhos e vivido na Igreja, portador de vida para todos, afirmou-se Jesus de Nazaré como o Cristo, a surpresa do Filho divino que armou sua tenda entre nós para curar as feridas da humanidade e ser o caminho na verdade do amor. Este Jesus chama ao discipulado no seguimento, filhas e filhos do Pai, no Espírito Santo, para serem Igreja servidora da humanidade nesta terra do Rio Grande do Sul. O Evangelho de Jesus torna-se a boa notícia a ser levada e testemunhada nas cidades e nos campos, nos centros e nas periferias, nos espaços públicos e nas comunidades, nas famílias e junto às pessoas abandonadas.
Com alegria, registrou-se, em toda parte, a presença de grupos atuando, refletindo e celebrando em favor da vida e das pessoas, em favor da paz e contra a violência, em favor do diálogo e contra as discriminações, em favor da simplicidade e da partilha, da assistência e da promoção, da libertação e da inclusão.
No contexto da relação da Igreja com a comunidade/sociedade, vê-se a necessidade de: 1) superar a ambivalência em assumir uma efetiva e evangélica opção preferencial pelos pobres; 2) substituir posturas autoritárias e anti-democráticas por práticas de diálogo e participação; 3) transformar a lógica competitiva e excludente do sistema em práticas de solidariedade e inclusão.
Considerando a atual situação das mulheres na Igreja e na sociedade, é possível reconhecer sua presença ativa em todos os cenários e celebrar conquistas que causam alegria e esperança. Porém, também persistem contra elas situações de discriminação e violência que exigem não só o repúdio, mas também a denúncia profética por parte da Igreja, fazendo-se solidária e comprometida com suas causas. Presentes em muitos espaços, atividades e instâncias eclesiais, as mulheres aspiram a que seja garantida e valorizada sua participação também nas decisões da Igreja.
O idoso precisa e espera da Igreja, seus bispos e presbíteros proporcionem: promoção, valorização, proteção, oportunidades, capacitação de agentes e de “cuidadores”, realização de parcerias e soma de esforços, para que as pessoas idosas, independente de confissão religiosa, encontrem, nas comunidades, sentido para a sua vida.
A Igreja Jovem do Rio Grande do Sul retoma a opção efetiva pela juventude empobrecida em suas diversas manifestações e convida para que estejamos abertos a olhar os jovens a partir de suas realidades, livres de preconceitos, capazes de acolhê-los assim como se apresentam.
Queremos ser Igreja Jovem, missionária, comprometida com a pessoa e a proposta de Jesus Cristo, que veio ao encontro e montou a sua tenda também no meio da juventude.
Isso tudo exige que nos coloquemos, como Igreja, a caminho num passo conjunto com o jovem, democratizando os espaços institucionais, adaptando-nos à realidade juvenil, acompanhando-os para que assumam o compromisso de serem evangelizadores de outros jovens, tendo em vista a construção da civilização do amor.
As práticas atuais da formação de agentes são ainda excessivamente voltadas para o interior da Igreja e baseadas numa doutrina pré-conciliar. É urgente a necessidade de repensar os processos da formação de agentes de pastoral na Igreja, a partir das necessidades reais das pessoas, à luz da prática de Jesus (Lc 24) e tendo, no horizonte, o Reino de Deus.
O compromisso com a ecologia, como expressão do cuidado com a criação e da valorização da vida, inserida num todo chamado ecossistema, ainda não faz parte da pauta institucional da Igreja Católica no RS.
A riqueza da biodiversidade é um apelo à partilha e ao reconhecimento do(a) outro(a) como legítimo(a) próximo(a), conforme inspiram as Sagradas Escrituras, despertando em nós uma espiritualidade ecológica.
Assim, importa inserir a temática da ecologia na agenda permanente da formação dos agentes de pastoral da Igreja Católica, desde a Catequese, formando uma cultura de respeito e compromisso com o planeta, dom de Deus, nossa casa comum.
Todos os que prepararam o I Fórum, as Paróquias, as Dioceses e as diferentes equipes de trabalho estão desde já convocadas para continuar o trabalho iniciado.
Todo o material produzido no I Fórum deverá ser de domínio de todos os agentes de pastoral.
Alguns seminários e oficinas já se posicionaram em favor de Fóruns específicos nas Dioceses, guardando-se as peculiaridades de cada uma, a partir de reflexões vivenciadas no I Fórum.
Observa-se, como consenso, que para conduzir com efetividade o que no I Fórum já se alcançou, diante da realidade estrutural e contextual que se vive, ser necessária a constituição de equipes de ação-reflexão para ajudar na operacionalidade das ações antevistas.
Agentes já envolvidos, e outros, bem como instituições as mais diversas, deverão ser chamados, inclusive para parcerias, a fim de garantir a continuidade do processo, a efetivação do lema do I Fórum e a provocação ao segundo Fórum.
No final de dois anos de caminhada, a Igreja no RS entra em nova fase metodológica, no contexto da Conferência de Aparecida. Assume o compromisso solidário e inadiável com os excluídos e de denúncia das situações de violência que ameaçam a vida. Abre sempre mais o diálogo com a sociedade e acolhe seus anseios. Prioriza a formação qualificada do povo e de seus agentes de pastoral. Reavalia sua presença nas pequenas e grandes cidades. Busca na Palavra de Deus a inspiração da conversão permanente.
Da participação dos leigos no processo organizativo e estrutural da Igreja, repousa a esperança e a efetividade das novas ações decorrentes do I Fórum.
Porto Alegre, 23 de setembro de 2007.
www.cnbb.org.br

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